03 setembro, 2006

│ponto come│



pois que a linha editorial bloguiana assenta no pressuposto de almas gémas que sofrem do mal do desencontro neste limbo urbano que é nosso.

o estilo de um blogue de engate masculino assenta muito na prosa poética, um valor seguro, pois é fácil constatar a mediocridade de um poema de dez sílabas: é aquele que dá vontade de rir. só os muito bons ou muito doidos se atrevem à poesia pura e dura (embora estes, por acaso, até facturem, pois as mulheres gostam de uma alma que lhes mostre as vísceras moídas, assim tipo ary dos santos mas sem a parte da bicha histérica).

se o blogue for feminino, a temática tende a manter-se, mas a autora terá de mostrar que está disponível, pois a maioria dos homens não está por aí além interessado na invasão de território alheio. ao escrever sobre uma relação acabada, a mulher junta à disponibilidade do presente, a experiência amorosa do passado, tendo embora o cuidado de não cair na lamechice excessiva e de não abusar das reticências (tarefa quase impossível).

quanto ao look da página, no caso deles, quer-se sóbrio, a resvalar para o gótico depressivo e o neurótico-desamparado. templates brancos ou pretos e sem grandes mariquices pictóricas, para que não se lhes questione a virilidade nem o bom-gosto. mas com fotografias: aliás, o blogue masculino de engate que se preze tem de ter fotos, em especial quando é preciso enfeitar para disfarçar a falta de génio (quase sempre): não há mulher que resista ao reflexo da lua nova no olho da gaivota, e ajuda a criar a aura de gajo-national-geographic, ou seja de macho sensível de teleobjectiva às costas e barba de três dias. impõe-se uma postura que apele à protecção, que desperte nelas o sentido do resgate, já que o instinto maternal é coisa tão inata numa mulher, que esta tanto embala nenucos como gatos e está sempre pronta para sentar outros no colo, catar-lhes piolhos e, basicamente, infernizar-lhes a existência. uma fêmea é uma verdadeira máquina de consolar que traz incorporadas doses inesgotáveis de amarfanhanços implacáveis dentro de si, e eles sabem-no.

nos blogues delas, mais floridos e policromáticos, os nicks ou akas escolhidos evocam geralmente heroínas trágico-boazonas com laivos de sedução místico-erótico, tipo lady godiva, mata-hari ou china blue. um truque comum é não indicar de quem são as fotos que expõem com partes do corpo a descoberto, deixando no ar a dúvida se aquela maminha que se antevê será, ou não, da que se assina lady godiva, ou se aquele cavalo branco da foto do post de sábado, foi, ou não, efectivamente, montado por ela em pêlo. num apelo ao voyeurismo masculino, vão deixando cair, por entre poemas e opiniões fortes, bocadinhos da sua intimidade: a copa do sutiã, a altura, a cor dos olhos, o peso (sempre menos de cinquenta e cinco quilos e a maioria tem olhos verdes, parece que a blogoesfera é uma afiliada da central models). gostam de mostrar que sabem cozinhar, mas nada de grosseiro como cozido à portuguesa, só nouvelle cuisine com ingredientes difíceis tipo rúcula, cardomomo e gengibre.

porque o ponto de partida para se ter um blogue, mesmo um que se limite a descrever as últimas descobertas no ramo da física nuclear é sempre o mesmo: darmos vazão a uma loucura contida e arremetermos contra uma espécie de solidão que nos infecta, mesmo que vivamos rodeados de pessoas e tenhamos que nos fazer ouvir aos gritos.

por sofia vieria, em
http://www.controversamaresia.blogspot.com/




os melhores blogues existem fora do computador...

2 comentários:

Anonymous disse...

a troca do olhar, dos gestos, dos mimos, das palavras na voz, dos cheiros, a partilha doce das presenças... insubstituível.

[O registo dos dias permanece connosco e em quem amamos/nos ama...sem plateias electrónicas]

beijinho real
marlene

rosa disse...

lol

│the end│

perdeste o nome como eu há muito perdera a infância. trying to stay awake noite turva pelo tamanho do medo and remember my name tentando luc...