23 junho, 2007

│interrupção involuntária da altivez│





a asa é uma grande mão deformada, com os dedos pendentes, uma mão partida e inerte.

anjos plenos da intenção de voo, corpos de cor que erguem com eles a tela. parecem sempre prontos a sair. e depois vêem as palavras como machetes, cutelos, foices, que lhes quebram o desejo. e ficam anjos feridos. tal como perdizes, com um chumbo na asa, arrastam-se aos tropeços, tentando o equilíbrio e recaindo na ferida.

os anjos vieram morrer todos a esta casa, mas não os anjos alemães, que eram louros, altos e fodiam uns com os outros a limpa foda ariana. uma madrugada, desceu para eles outro anjo mais implacável, levou-os nus para o jardim e metralhou-os contra um fundo plácido de montanhas: o eco dos tiros devolvia ao amanhecer o silêncio pastoril.

rui nunes.

18 junho, 2007

│reset│



porque antes do 1 , tem de existir um 0.

que a enumeração seja só o que vejo,
dois olhos lançados devagar abertos fechados abertos fechados fechados fechados
recolhem o que para o verso interessa.

à beira do berço,
a beleza textualmente transmíssivel do sistema solar lar lar só lar só só.
inseparável o que se aprende de quem ensinou.

17 maio, 2007

│reciting the ships│



depois da madrugada partida e inerte, plena da intenção vespertina, venho esquecer a esta casa, em postura de silêncio dobrado.

anonimamente recolher rudimentos do chumbo no desejo, revolver as mãos na areia em curvas de pobreza, nas entrelinhas lendo a imperfeita enumeração dos caminhos vulgares.
somente a diuturnidade alheia para tornar coeso o azul mortífero, este vento inominável que ronda os rochedos como um animal selvático em vigia.

a história, a narração.
uma voz além madrugada que desce para mim no fundo de um vale, expectativa dolorosa mas serena, palavras maiores para desfazer o nó silvestre que cresceu nos dias.

06 maio, 2007

│todo um relâmpago inteiro│


segunda pele:
zona de ilusão de experiência.

em placidez, movendo a mão metálica da tempestade
com as lanternas da vanidade
sobre dedos de noite amarga.

primeira pele:
ventos duram coisa nenhuma.

terceira pele:
silêncio cálido tatuando novos ventrículos
e de explosão em explosão empalidecer o escondido insecto.

29 abril, 2007

│blend│

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happiness is my way of looking at some of the things that both interest and trouble me: the evolution of behavior, how we learn and what we remember, expectations, the meaning of justice and the effects of increasing speed - colored by the darker elements of doubt and fear.

laurie anderson, 13 julho, teatro circo, braga.

15 abril, 2007

│venoso│


# husky rescue - the new light of tomorrow #

«a felicidade não é negação é muito uma música invisí­vel que ressoa grande as vezes que for preciso. a felicidade não vive e a música inunda o tamanho da montanha: vence sempre como um mar que se recebe.»

um vento comestível que nutre uma fome desconhecida.

fervente,
metade do meu sangue é feito de música.

08 abril, 2007

│intenção de voo│


# i'm from barcelona - we're from barcelona #

pés descalços na relva, duas chamas no olhar sobre o lago, o sol caindo branco.
a vida não merece o trato que lhe damos.

│the end│

perdeste o nome como eu há muito perdera a infância. trying to stay awake noite turva pelo tamanho do medo and remember my name tentando luc...