11 julho, 2007

│the end│


perdeste o nome como eu há muito perdera a infância.
trying to stay awake
noite turva pelo tamanho do medo
and remember my name
tentando lucidez para segurar o volante.
é assim que um dia dizemos adeus, de muito longe, a alguém que nós fomos.

07 julho, 2007

│lentíssimo│



à melancolia adicionas um pequeno trago de vento adolescente, ensinas à beira-mar ofícios de afogado em marítima intransigência,
até que um anjo frio vem fechar-te as pálpebras, docemente, com seus dedos de sal marinho.

28 junho, 2007

│voa dor│



há um vapor que emana dos pequenos movimentos do mundo, da luz do riso e do sorriso, do gesto lento, das inflexões da voz. a música é íntima como um vapor, sem se saber como o outro se ouve dentro de si.
adaptado de fátima pombo.

23 junho, 2007

│interrupção involuntária da altivez│





a asa é uma grande mão deformada, com os dedos pendentes, uma mão partida e inerte.

anjos plenos da intenção de voo, corpos de cor que erguem com eles a tela. parecem sempre prontos a sair. e depois vêem as palavras como machetes, cutelos, foices, que lhes quebram o desejo. e ficam anjos feridos. tal como perdizes, com um chumbo na asa, arrastam-se aos tropeços, tentando o equilíbrio e recaindo na ferida.

os anjos vieram morrer todos a esta casa, mas não os anjos alemães, que eram louros, altos e fodiam uns com os outros a limpa foda ariana. uma madrugada, desceu para eles outro anjo mais implacável, levou-os nus para o jardim e metralhou-os contra um fundo plácido de montanhas: o eco dos tiros devolvia ao amanhecer o silêncio pastoril.

rui nunes.

18 junho, 2007

│reset│



porque antes do 1 , tem de existir um 0.

que a enumeração seja só o que vejo,
dois olhos lançados devagar abertos fechados abertos fechados fechados fechados
recolhem o que para o verso interessa.

à beira do berço,
a beleza textualmente transmíssivel do sistema solar lar lar só lar só só.
inseparável o que se aprende de quem ensinou.

17 maio, 2007

│reciting the ships│



depois da madrugada partida e inerte, plena da intenção vespertina, venho esquecer a esta casa, em postura de silêncio dobrado.

anonimamente recolher rudimentos do chumbo no desejo, revolver as mãos na areia em curvas de pobreza, nas entrelinhas lendo a imperfeita enumeração dos caminhos vulgares.
somente a diuturnidade alheia para tornar coeso o azul mortífero, este vento inominável que ronda os rochedos como um animal selvático em vigia.

a história, a narração.
uma voz além madrugada que desce para mim no fundo de um vale, expectativa dolorosa mas serena, palavras maiores para desfazer o nó silvestre que cresceu nos dias.

06 maio, 2007

│todo um relâmpago inteiro│


segunda pele:
zona de ilusão de experiência.

em placidez, movendo a mão metálica da tempestade
com as lanternas da vanidade
sobre dedos de noite amarga.

primeira pele:
ventos duram coisa nenhuma.

terceira pele:
silêncio cálido tatuando novos ventrículos
e de explosão em explosão empalidecer o escondido insecto.

29 abril, 2007

│blend│

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happiness is my way of looking at some of the things that both interest and trouble me: the evolution of behavior, how we learn and what we remember, expectations, the meaning of justice and the effects of increasing speed - colored by the darker elements of doubt and fear.

laurie anderson, 13 julho, teatro circo, braga.

15 abril, 2007

│venoso│


# husky rescue - the new light of tomorrow #

«a felicidade não é negação é muito uma música invisí­vel que ressoa grande as vezes que for preciso. a felicidade não vive e a música inunda o tamanho da montanha: vence sempre como um mar que se recebe.»

um vento comestível que nutre uma fome desconhecida.

fervente,
metade do meu sangue é feito de música.

08 abril, 2007

│intenção de voo│


# i'm from barcelona - we're from barcelona #

pés descalços na relva, duas chamas no olhar sobre o lago, o sol caindo branco.
a vida não merece o trato que lhe damos.

25 março, 2007

│work in progress│

# cibelle - london, london [feat devendra banhart] #

fresco, solto, livre, límpido, e profundo, como se espera de um sorriso.

07 março, 2007

│ligação arte rial│



- tenho sempre as mãos frias.
- não é bem isso, tens sempre o frio nas mãos, um frio que se abriga nelas para não morrer.

rui nunes

04 março, 2007

│hinterland│






# fugir do ruído # fugir do silêncio #

ir.
pela página.

: à volta :
chão, céu, cor. aqui. mar.

: azul :
afaga afaga afaga afaga afaga afaga apaga afaga apaga afaga apaga a dor.

apaga.

por Alguém.

03 março, 2007

│outras audições│



só o sangue dói como um relâmpago.

para ouvir com o queixo pousado nos joelhos, de olhos fechados para melhor abrir o céu, sentindo dentro o traço de fogo de uma mão silenciosa que se fecha. povoar milimétrica e cirurgicamente todos os espaços em branco ardente.

01 março, 2007

│papel mate│



que as estrelas fossem o meu tecto, que a luz da lua fosse a única água a banhar-me o rosto, que o vento fosse o lençol com que aconchego o frio, e o sono a única inconsciência que me seduzisse.

28 fevereiro, 2007

│endoderme│






sendo em definitivo pedra. rochosa.

se puder escolher, tentarei ser um grande rochedo no meio do mar, para continuar a recolher a tristeza dos que se vêm sentar a olhar a sua vastidão, por horas esquecidas. os dias e as noites em melancólica sucessão, sol levantando e caindo ao redor, com uma lentidão informulável, e talvez pudesse interrogar a um velho marinheiro que rota escolhem as longínquas aves salinas. talvez pudesse sonhar, com a exactidão de um velho marinheiro, essa inacessível rota do mar.

sendo em definitivo poderosamente só. se puder escolher.

19 fevereiro, 2007

│moon palace│





grau degrau degradar dar

por baixo do chão um caminho branco
e à volta transeuntes tão alheios
à cintilação secreta de um mar
em todas as imagens que se esquivam,
agudamente.

21 janeiro, 2007

│em grande sido│





sobre cada papel o vapor do chá,
o ruído natural que o descanso aquece na página.
o incenso tece, como qualquer flor, um berço nas árvores em sete mares
um verso além das montanhas que roda nos eixos da imaginação.

cada silêncio convida um mar
uma aba branca branca como a vaga enumeração de uma chama.

20 janeiro, 2007

│vez de onda│


«eu vinha para a vida, e deram-me dias»
vivos com os seus lugares e espaço.
ontem nasci sem fim, e alimentei-me
nesta mesa que em duas se reparte.
uma aba no mar, vagante à toa,
trouxe os sabores de ondas, de orlas.
outra aba na terra mostrou-me as pedras
polidas, úberes, gastas. pedras
densas que me encheram o ventre
e me criaram similar à terra.
no mar tive cristais quebrados, jóias;
na terra, tão nítida poeira branca
que fundi as formas das flores visíveis.

e hoje é este olhar profundo,
deriva das imagens pelo mundo."

fiama hasse pais brandão dorme em leito de fogo.

15 janeiro, 2007

│we have a map of the piano│





às vezes lemos a nossa dor e tudo muda, um verso uma frase ressoam em nós como um segredo que se mostra, conseguimos, alguns conseguem, essa sobrevivência frase a frase, verso a verso, porque lhes fala tão próximo, porque parou para lhes falar, então deve ser essa, a que permite esperar, aquela onde descansarão.

rui nunes

│the end│

perdeste o nome como eu há muito perdera a infância. trying to stay awake noite turva pelo tamanho do medo and remember my name tentando luc...